Roda de Conversa do Projeto Eu Tenho Voz na Rede reúne docentes de Piracicaba
O IPAM realizou nesta quinta-feira (3) a primeira Roda de Conversa on-line com cerca de 50 educadores de escolas públicas de Piracicaba que concluíram o “Curso de Capacitação Básica para Prevenção e Combate ao Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes” do Projeto Eu Tenho Voz na Rede. O curso teve mais de 100 inscritos, indicados pela Secretaria de Educação de Piracicaba, parceira do projeto.
“A questão do abuso sexual é um tema muito difícil de ser abordada, e por essa razão escolhemos a arte e as narrativas da Cia NarrAr para, de uma forma lúdica, educar alunos contra o abuso sexual. 80% dos abusos de crianças e adolescentes acontecem com pessoas conhecidas e 60% são feitas por pais, padrastos, tios ou avós, dentro da casa da criança e do adolescente ou em local de convívio da rede familiar. E, com a pandemia, as vítimas estão presas dentro de casa com os abusadores. A família tem dificuldades em lidar com o tema do abuso sexual e os professores têm dificuldades em abordar. Por essa razão o IPAM criou o curso de capacitação”, disse na abertura do encontro on-line a juíza Hertha Helena Rollemberg Padilha de Oliveira, 2ª vice-presidente do IPAM e idealizadora e coordenadora do projeto.
Segundo a juíza, “a escola é um reduto de segurança dessas crianças que sofrem a violência doméstica. Depois desse tempo de pandemia essas crianças vão voltar às aulas presenciais com muitas denúncias. E os educadores são fundamentais para lidar com essa realidade violenta e precisam estar em rede compartilhando suas dificuldades e fazendo os encaminhamentos das denúncias”.
Hertha Helena de Oliveira destacou para os docentes que, “mesmo diante de uma realidade difícil de falta de recursos, os professores que trabalham nas escolas de periferia desempenham um papel heroico, e são fundamentais na vida desses alunos, ouvindo-os em um momento crucial que é o da volta para o ensino presencial”. E fez um alerta: “O professor que recebe a denúncia precisa encaminhá-la ao Conselho Tutelar e à Justiça, ou pode ser responsabilizado por omissão”.
Erica Eugenio, supervisora da Secretaria de Educação de Piracicaba, lembrou que “é muito difícil para a criança que sofre abuso ter voz e pedir ajuda. Elas querem contar o que sentem, mas não sabem pedir socorro, e se tornam cada vez mais revoltadas e violentas. Nós, da Secretaria da Educação de Piracicaba, estamos o tempo todo falando com os professores e, infelizmente, já tivemos muitos casos aqui. Agora com a rede de proteção, poderemos compartilhar nossas experiências e darmos andamentos de uma forma mais eficiente nos casos”.
Mara Martins, também supervisora da Secretaria da Educação de Piracicaba, disse que “a roda de conversa on-line veio ao encontro das necessidades de professores das redes estadual e municipal da cidade. Precisamos muito dessa parceria e desse apoio. Com certeza quando as aulas retornarem esses casos de violência e abuso sexual vão aparecer e nossos professores vão saber como lidar”.
Ana Cristina Moura, assistente social que atua no Centro Nacional de Referência das Vítimas de Violência (CNRVV), orientou os docentes dizendo que “não é preciso ter certeza de que as crianças estão vivendo uma situação de violência. Os professores têm a vantagem de estar em um espaço privilegiado, onde a criança vai diariamente e passa um grande período de tempo. Com a nova lei, da escuta e do depoimento, a escola foi eleita o espaço de prevenção. Dá para fazer uma série de atividades para que a criança entenda o que é normal, ou não, ser feito com ela e com o corpo dela, o que é violência e o que está transgredindo. Por isso é muito importante os professores estarem capacitados, trocar experiências em rede de como fazer os encaminhamentos em casos de violência física, psicológica e/ou sexual, para quando isso acontecer eles não serem pegos de surpresa e ficarem paralisados sem saber como agir”.
Alice da Silva Romualdo, guarda civil municipal em Piracicaba, lembrou que há uma parceria com a Secretaria da Educação, no projeto GCEP – Guarda Civil Educação é Prevenção, onde o trabalho é orientar adolescentes, por meio de uma cartilha, contra uso de drogas, gravidez precoce e violência doméstica. “Quando há casos de violência doméstica, geralmente as crianças se abrem de alguma situação constrangedora. Com essa Rede de Proteção podemos compartilhar casos e pensar a melhor forma de resolver para que a criança não fique tão impactada”.
Por fim, a juíza Hertha Helena de Oliveira orientou os educadores a sempre que fizerem uma denúncia ao Conselho Tutelar enviar uma cópia ao Ministério Público. E, em casos de escolas localizadas em áreas de vulnerabilidade social, fazer a denúncia anônima por meio do Disque 100, 181 ou no site do www.projetoeutenhovoz.com.br.
Estavam presentes na Roda de Conversa todos os profissionais da Cia NarrAr que desenvolveram as narrativas artísticas. A próxima etapa do Projeto Eu Tenho Voz na Rede em Piracicaba será a apresentação para os aprendizes dessas narrativas nas escolas municipais, com a supervisão de um professor e a intermediação de um juiz ou promotor que estarão on-line, promovendo um diálogo com as crianças, tirando as dúvidas e ouvindo eventuais denúncias.