IPAM capacita policiais de Rio Preto para lidar com abuso infantil

A coordenadora do Projeto Eu Tenho Voz do IPAM, juíza Hertha Helena Rollemberg Padilha de Oliveira, capacitou na última quinta-feira (9) um grupo de policiais de São José do Rio Preto para lidar com casos de abuso sexual de crianças e adolescentes. Durante a capacitação, realizada de forma on-line, a magistrada apresentou estatísticas sobre os casos e duas videonarrativas criadas pela Cia Narrar – A Fada e a Sombra e A Menina Invisível –  para policiais do 17º Batalhão de Polícia Militar que fazem parte do Cejusc – Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de São José do Rio Preto.

O encontro foi intermediado pelo juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude de São José do Rio Preto, Evandro Pelarin, e pela psicóloga judiciária da Infância da região, Railda Ferreira Galbiati. “Agradeço aos policiais aqui presentes que estão nos ajudando nesse sistema protetivo de nossas crianças e adolescentes”, disse o juiz.

A psicóloga lembrou que no ano passado o 17º Batalhão de Polícia Militar participou de uma roda de conversa na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), promovida para autoridades da área com o objetivo de sanar dúvidas e fortalecer as forças da rede protetiva, no sentido de assistir, proteger e dar conhecimento dos objetivos e eficácia das metas do projeto para crianças e adolescentes, e “por meio da policial Carla Bittencourt, que teve contato com a Vara da Infância e Juventude, solicitou uma data para os policiais fazerem o curso de capacitação. A policial Eduarda nos ajudou em todo o processo de inscrições”, lembrou.

Segundo Railda Galbiati, o Eu Tenho Voz, que já havia chegado à região em julho do ano passado, quando foi promovido o Curso de Capacitação Básica  do projeto de forma on-line, finalizado em setembro como projeto-piloto, e “mostrou resultados surpreendentes: por essa razão este novo encontro é para sanar as dúvidas e trocar experiências”, afirmou.

“Foi a primeira vez que uma Vara da Infância e da Adolescência nos solicitou o curso e também foi a primeira vez que tivemos policiais participando da capacitação e do projeto”, afirmou a juiza Hertha Helena de Oliveira. “Esse ineditismo se deve ao juiz Evandro Pelarin e à Railda na organização desses encontros, e essa ação em Rio Preto já mostra resultados expressivos. Eu costumo dizer que um bom juiz não é o que usa a técnica, mas que consegue usar a sua sensibilidade para perceber a questão da violência sexual, principalmente em relação a crianças e adolescentes. E eu digo isso a todos os policiais também. O estereótipo do policial é de uma pessoa corajosa, forte, protetiva, mas nem sempre nós conseguimos visualizar que o policial é também um ser humano e tem dificuldades para lidar com um tema tão delicado”, disse a magistrada.

A 2ª vice-presidente do IPAM destacou que “o policial é o primeiro que chega em um evento traumático, que é facilmente identificado pela farda, e normalmente as pessoas confiam em um policial. O papel do policial na prevenção do abuso sexual passa por duas questões, a primeira é ter a capacidade para identificar a situação real do que está acontecendo. É muito importante o policial ter a percepção da realidade e a visão correta do que está acontecendo. A segunda questão normalmente é que os policiais já estão acostumados com os casos de violência doméstica e as crianças, na maioria das vezes, confiam plenamente nos policiais”, disse.

Em seguida, a juíza apresentou estatísticas sobre denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes em Rio Preto durante a pandemia. “Em 2021 atendemos 24 mil crianças e recebemos 248 denúncias e em 2022 chegamos a atender 7.750 crianças e recebemos 307 denúncias. A situação da pandemia agravou muito a violência sexual, mas as crianças também estão mais encorajadas e denunciando os abusadores. São José do Rio Preto representou 4,08% desse total de denúncias”, enumerou a dirigente do IPAM.

A psicóloga do Centro de Referência às Vítimas da Violência (CNRVV) e professora do curso de capacitação Beatriz Braga Lorencini enfatizou a questão da qualidade do material do curso e da forma didática em que é apresentado. “O material tem uma linguagem muito acessível e isso desperta na criança e na família a vontade de se colocar porque a escuta vai de encontro à solução do problema. Mas o principal que aparece é solidariedade, justiça, possibilidade de diálogo e respeito mútuo, no sentido do trabalho realizado e com um resultado melhor possível”, disse a educadora.

Por fim a psicóloga Railda Galbiati falou dos resultados do projeto na cidade de Rio Preto. “A gente só conhece uma realidade quando se aproxima dela e essa experiência em apenas duas escolas foi gratificante. Foram 26 relatos espontâneos e a aproximação com as famílias foi muito importante. Muitas nos procuraram para saber mais sobre o projeto, o que estava acontecendo com os filhos e buscar encaminhamentos, mostrando-se muito abertas e receptivas. Houve também aproximação com outros serviços da rede, mobilização da rede para saber como atender e quais recursos podem ser utilizados, e há uma preocupação com esses casos que estão chegando e interesse das escolas para desenvolver projetos buscando atendimentos específicos de saúde e psicológicos para as vítimas. Agora estamos com a proposta de estender o projeto para mais três escolas”, concluiu.

Participaram também do encontro a administradora do projeto Geralda Borges e o coordenador do Cartório da Vara da Infância e Juventude Cesar Akira Cunha Fukassawa, que foi o responsável por transmitir on-line as videonarrativas aos presentes.

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