Ouça a entrevista do IPAM à Radio Nacional sobre o Eu Tenho Voz
A coordenadora do Projeto Eu Tenho Voz e 2ª vice-presidente do Instituto Paulista de Magistrados (IPAM), juíza Hertha Helena Rollemberg Padilha de Oliveira, foi entrevistada nesta quarta-feira (27) na Rádio Nacional de Brasília, e ressaltou a importância das denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes durante a pandemia.
Segundo a juíza, “ocorrem em média seis internações diárias por aborto envolvendo meninas que engravidam após serem estupradas e, ao contrário do que se pensa, as crianças não estão seguras em casa durante a pandemia da Covid-19, pois a maioria das vítimas sofre essa violência dentro de casa, e o abusador é um conhecido ou um parente próximo”.
Ao comentar dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública sobre o crime de estupro de vulnerável durante a pandemia, a juíza destacou a importância do Projeto Eu Tenho Voz e sua forma de atuação. “A ideia de levar as informações para dentro das escolas é para que a criança saiba no seu ambiente de maior confiança, e mediado por professores e educadores, o que é o abuso sexual infantil e como ele acontece, porque muitas vezes a criança não sabe”, afirmou.
A magistrada explicou que o Projeto Eu Tenho Voz leva para as escolas públicas a peça Marcas da Infância, que aborda o tema de maneira leve e lúdica, e capacita os educadores e professores para receber as denúncias dos alunos. “Muitas vezes a denúncia é feita logo após a apresentação da peça, que conta com a presença de um juiz ligado ao Projeto na escola, mas em outros casos a criança demora um pouco mais e faz a denúncia para o professor, que precisa estar preparado para acolhê-la”, explicou
A 2ª vice-presidente do IPAM anunciou o lançamento em breve do Projeto Eu Tenho Voz na Rede, “que é a adaptação do projeto à modalidade a distância, tanto para podermos atuar remotamente durante a pandemia, quanto para que o Projeto possa ser levado para escolas fora de São Paulo”, disse a juíza.
Ao ser questionada sobre os sinais que as crianças que sofrem violência sexual podem apresentar, ela esclareceu que “a criança sempre dá sinais e o primeiro deles é a mudança de comportamento: se ela é uma criança mais ativa pode ficar mais introspectiva, se é mais quietinha pode se tornar violenta. E, conforme o abuso vai se desenvolvendo, a criança também começa a ter algumas manifestações de sexualidade que não estão de acordo com a idade dela”, afirmou.
Por fim, a juíza reafirmou a importância de que seja feita a denúncia. “Se você tem alguma dúvida ou suspeita de que algo não está correndo bem, não fique parado. A omissão é um crime. Não se omita se você acha que está acontecendo algum tipo de violência contra uma criança. Se você estiver enganado, melhor para a criança, mas se estiver certo poderá estar salvando uma vida com a sua denúncia.”